terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Contradições


Hoje eu quero agarrar o Mundo com notas de piano, poder vira-lo ao contrário sem dele me cercar, ser mais que tudo, não ser nada. Nele sou pele de preto e branco onde cada uma das suas infinitas cores me permite sentir, esperar, viver. Hoje, quero da essência tudo o que lhe dá significado, como luz que rodopia, como medo de quem mente, como dor dormente. Sem essência, a vida não passaria de mera coincidência.

Hoje quero abalar o Mundo, dar com ele voltas a direito, seguir em frente. Quero ser as notas de piano, tocar na minha mente. Sei que a vida de quem está só não só está deixada por viver como cansada de perder. Foi largada ao acaso, será solta ao morrer. Passo a passo, mão na mão, de boca em boca, corre o desejo inflamado, o amor que mal amado nos traz dissabores. Toquei na melodia que à alma me chega e olhando nos seus olhos vi solidão. Se ao menos eu soubesse que de mim se tratava… Se deixasse a mim própria ser piano ou ser Mundo, trocar 3 horas por um único e pequeno segundo. Se eu gritasse meramente a palavra silêncio, quem notaria a contradição? O princípio do viver sempre andou nessa mesma direcção.

Na verdade, tudo o que eu quero é deixar de querer, deixar de sentir que não me sinto, ver que dentro o vazio é lembrança que preenche a frio. Viver é tudo o que vi(vi), tudo o que vou (vi)ver. É perder de vista sem nunca esquecer, é acordar de noite e de dia adormecer. Viver, é o cruzamento de todas as contr(adições)que por sua vez se cruzam aos pensamentos, sentimentos e acções de cada um, que por si só são frequentemente antagónicos. Se todos nós constantemente agimos em desacordo com o que sentimos e/ou pensamos, como ousamos afirmar que não vivemos?
Hoje eu quero ser maior pelo tanto que não sei, ser respeitada por tudo o que não fiz, admirada pelas vezes em que errei. Desta vez…

… Vou perdoar quem magoei …

… Abraçar que rejeitei …

… Abandonar quem conquistei …

Desta vez… quero correr, até que tudo corra tudo bem.





[Naquele que não é definitivamente o meu registo próprio, mas cujo conteúdo se enquadra (em mim, ou no blog? ahah)]

6.Dez.2008

2 comentários:

  1. Vim a correr dar uma lidinha no teu novo Blog e... simplesmente adorei (adorei, adorei, adorei) este texto. Acho que estava com fome de ler algo teu.

    Beijo *

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  2. "Hoje eu quero ser maior pelo tanto que não sei, ser respeitada por tudo o que não fiz, admirada pelas vezes em que errei. Desta vez…" hoje eu admiro-te por tudo o que não sabes mas que sei que de mente aberta e curiosidade aguçada anseias descobrir, saber. é na luta, no percurso, na descoberta que és maior. Hoje tudo o que não fizeste faz de ti, grande por tudo o que ainda podes fazer, tens a fazer. e os erros esses sim, são fonte de admiração, não por si. pelo menos nao SO por si. mas por tudo o que significaram em ti. por tudo o que significam no mundo. e errar é tao mais admiravel pela coragem de fazer sem medo, ou memso com medo, mas tentar. simplesmente tentar.

    "Sei que a vida de quem está só não só está deixada por viver como cansada de perder." desculpa, mas nao concordo contigo. não podemos depender de outros para vive, desculpa: VIVER. e perdemos só o que temos, quem está cansado de perder não é quem está só. é mais ao contrário... se bem que estando sempre a perder acabar-se-á por ficar só. mas nao tao fatalista. nao tão linear. há solidões que constroem vidas e reconstroem sonhos.*

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