sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Sigilos Austeros

Decorrem séculos de uma vez,
Morrem tentativas de dizer, de entender porquês.
Ficaram silêncios, pararam no tempo
Esperam por ser.

Sem palavras, sem termos,
Sem promessas, sem barreiras.

Quis exprimir, quis arrancar fora do peito
Quis definir a tristeza, chorar o sorriso imperfeito.

Pudera o dia não ter vozes, o coração não ter sombras
Pudera o tempo poder não o ser
Guardar-se em momento sem ninguém sequer sonhar
Sem ninguém o procurar.
Se soubesse como transmitir as verdades essenciais como se fossem meramente banais,
Quem me dera saber!
Quem me dera nem saber
De onde chegou o pequeno utopista
Aquele que me soube romper.

E enquanto houver horizontes por caminhar
Emancipada será a dor que sinto
Padecendo em cada ocasião, em cada em que minto,
E enquanto houver mil pontes pra lá chegar
Isenta de saudade não estarei, não ficarei
De cada pedaço meu que desabitei.

Querer abrigar, faz-me lembrar
Querer esquecer, põe todas as minhas feridas a arder.
Fere-me a imagem que destapo
E ver-me,
Solta toda uma vontade de me prender
Algemar, sucumbir.

Sem palavras, quis dizer o que eu própria silenciei.
Doces palavras, açucaradas que eu amarguei.
Não amei, não odiei
Mas odiei amar todo o meu ódio
Amei odiar o meu amor sóbrio.

Quis não querer mais o calor e a febre quando abracei a incerteza
Que nesse instante, deixou de ser tão certa.
Quis tentar arrecadar a sensação de um coração a palpitar
Que quieto se manifestou
E parou de soar.
Abalei a fugida, apanhei o m.e.d.o
Quis chamar-me à superfície sem me fazer notar …
Mas agora de ti só sei, tudo o que tento em vão não aprisionar.

Não me importo, de todo que me importo
As lutas que travo, das guerras recomeçadas,
Não me combato.
As lutas que travamos, as guerras recomeçadas contra cada uma de nós,
De todo que tento deter
Se na verdade não continuas a precisar de mim, de me ter.

Não pretendo que saibas, apesar de haver ainda uma parte em mim tão triste
Tão escura e silenciadora…
Sempre que me toca o pensamento, esforço-me para não a sentir
Quando me desola o olhar, não posso deixar de a reprimir
Torna-me impiedosa, faz-me constringir.

Esse pedaço que em mim reside, que me habita mesmo quando não o consigo ouvir,
Faz de mim um cais despercebido.
Nele vivem as lágrimas e os sorrisos sinceros
Nele atracam os meus sigilos austeros
Que por agora, é sabido…
Perderam sentido.

[31-Dez-2008]

1 comentário:

  1. Há para quem as palavras não ditas tenham o dobro ou o triplo do peso. Há coisas que se afastam sem nunca se perderem. Há espaços que têm de existir, têm de ser vividos, assim com espaço e tempo. Há momento que é preciso deixar ir, largar mão deles e deixar que a memória assente com calma, sem levantar pó.
    há coisas que nos fazem os sentidos. e há outras que nos desfazem os sentidos. e pronto, de qualquer forma cada momento tem vários sabores, o do que é vivido, o de que não é vivido, o de que é dito o que ficou por dizer, o que nao devia ser dito o que tem de ser dito. o do presente, o da memória...
    beijo*

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